O planeta pede socorro
Como cidadãos, temos responsabilidade nas mudanças climáticas
Luana Marino
03 de Abril de 2020

Todo ano, a cena se repete pelo mundo: florestas são devastadas por incêndios, temporais lavam cidades e deixam milhares desabrigados e o calor em países tropicais é cada vez mais insuportável — assim como o frio na outra ponta do planeta. As alterações climáticas são sempre pauta em reuniões que envolvem os grandes chefes de estado do mundo, mas a impressão que se tem é que a população em geral ainda não se deu conta da urgência deste assunto.

Ano passado, a jovem britânica Greta Thunberg, de apenas 16 anos, foi eleita pela revista Time como a personalidade do ano. A razão para tanto? A jovem é a grande voz dos dias atuais a chamar a atenção para as alterações no clima do planeta e como o ser humano é o grande vilão. Assim como ela, muitas ONGs fazem da defesa ao meio ambiente suas causas pessoais e lutam para que as autoridades possam fazer alguma coisa enquanto é tempo.

O que tem acontecido com o planeta, aliás, não é novidade. Mas o tempo que resta para se reverter este quadro está terminando. Estudos feitos por cientistas vinculados à ONU apontam, inclusive, que teríamos apenas 12 anos até o planeta entrar em colapso — na verdade, dez, uma vez que os dados são de 2018.

É uma corrida contra o tempo, e em meio há tantas previsões catastróficas, fica a pergunta: é possível ainda salvar o planeta desta tragédia climática anunciada?


Cidadãos do céu e da terra

Tudo o que se encontra ao nosso redor é o resultado de um trabalho meticuloso e muito bem executado pelo nosso Deus. Descrito nos primeiros versos da Bíblia Sagrada, foram seis dias até que todo o universo, o sol, a lua, as estrelas, os mares, os oceanos, as plantas e os animais se formassem. Tudo isso, disse Deus, era bom. Tão perfeito que até a própria ciência se espanta com a maneira como a vida se mantém.

O salmista vai declarar que “os céus declaram a glória de Deus, e o firmamento anuncia a obra das suas mãos. Um dia faz declaração a outro dia, e uma noite mostra sabedoria a outra noite. Não há linguagem nem fala onde não se ouça a sua voz” (Sl 19.1-3). Contemplar a natureza é se sentir pequeno diante da magnitude do poder de Deus.

Mas a coroa da criação veio ao final do sexto dia. O cenário espetacular estava montado; faltava, porém, um protagonista, e Deus decide criá-lo com suas próprias mãos, formando-o do pó da terra e soprando fôlego de vida em suas narinas. O homem é chamado de coroa da criação, feito à imagem e semelhança de Deus. Há em nós atributos que são semelhantes ao do Criador.

Quando Deus conclui sua obra, diz ao homem as seguintes palavras: “Dominai sobre os peixes do mar e sobre as aves dos céus, e sobre todo o animal que se move sobre a terra. Eis que vos tenho dado toda a erva que dê semente, que está sobre a face de toda a terra; e toda a árvore, em que há fruto que dê semente, ser-vos-á para mantimento. E a todo o animal da terra, e a toda a ave dos céus, e a todo o réptil da terra, em que há alma vivente, toda a erva verde será para mantimento” (Gênesis 1:28-30).

A criação de Deus é perfeita, mas o homem a destrói dia após dia

O homem recebe sua tarefa e começa a executá-la com perfeição. Até que o pecado entra no Jardim do Éden, e é aí que surge o embrião do colapso que está cada vez mais próximo de nascer.

Ora, não é difícil entender por que este desequilíbrio começou ainda no Éden, com a queda do ser humano. Para que a terra produza alimento e haja equilíbrio entre todos os seres viventes, é necessário que o seu ciclo seja respeitado. Há, portanto, uma responsabilidade sobre o homem com a terra.

Com o gênero humano corrompido, muitos perdem a concepção deste dever. Torna-se natural cometer delitos que estão destruindo o planeta, como desmatamentos, queimadas, lixo jogado nas ruas, caçadas ilegais. É preciso chamar o homem de volta à sua responsabilidade enquanto cidadão da terra para que o ciclo volte a ser como antes.

Mas seria ainda possível reverter este quadro catastrófico? Escatologicamente falando, o que se tem visto na natureza é um sinal do fim dos tempos. As palavras de Jesus aos seus discípulos descritas nos Evangelhos comprovam que nada do que estamos vendo acontecer com o meio ambiente é novidade: “Haverá grandes terremotos, fomes e pestes em vários lugares, e acontecimentos terríveis e grandes sinais provenientes do céu”, disse o Mestre em Lucas 21.11.

Por mais que pareça ser em vão quando lemos passagens como a descrita acima, cada um deve fazer a sua parte para ajudar o planeta a se recuperar, e por uma razão muito simples: cuidar com zelo da criação também é cristianismo. 


Colapso ambiental a caminho?

Que o planeta pede socorro, isso é fato, mas por que especialistas alertam tanto para um iminente colapso ambiental? 

A preocupação com as mudanças climáticas não é de agora, muito pelo contrário. Já em meados do século XIX (como mostra o infográfico ao final desta reportagem), começou-se a falar sobre efeito estufa e o que ele poderia causar no clima do planeta.

Geleiras do Alasca estão derrendo 100 vezes mais rápido que o esperado, segundo estudos

Desde então, geração após geração, esta tem se tornado uma pauta prioritária nas reuniões dos líderes das nações mais ricas do mundo, sempre buscando alternativas para frear o que parece inevitável. Países assinaram o Protocolo de Montreal, em 1987, comprometendo-se em restringir o uso de materiais químicos que destroem a camada de ozônio. Em 1997, foi a fez do Protocolo de Kyoto, no qual os países ricos prometeram reduzir a emissão de gases que provocam o efeito estufa.

Um dos mais recentes é o acordo de Paris, firmado em dezembro de 2015 e tratado no âmbito da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, a fim de conter o aquecimento global abaixo de 2 °C (preferencialmente em 1,5 °C).

Uma das trágicas consequências do aquecimento global é o derretimento das geleiras glaciais, o que pode elevar o nível dos oceanos a ponto de pequenas ilhas desaparecerem do planeta — para se ter uma ideia, cinco ilhas do Pacífico Sul já foram submersas por conta do aumento do nível do mar.

Medidas de combate à poluição também estão sendo criadas, e um exemplo aqui no Brasil é a lei que proíbe canudos de plástico em estabelecimentos comerciais e também a distribuição gratuita de sacolas plásticas nos supermercados, já em vigor em alguns estados. Medidas que podem parecer sem importância, mas que devem diminuir em até 2 bilhões o número destas unidades no ano — um avanço e tanto, considerando que a sacola leva até 450 anos para se decompor e, durante esse tempo, entope bueiros, impedindo o escoamento das águas das chuvas (fator de agravamento de enchentes) ou vai parar nas matas, rios e oceanos, onde acaba engolida por animais, que podem morrer sufocados ou presos nela.

E o que a igreja pode fazer para ajudar? Da mesma forma como é necessário que haja uma consciência coletiva, a igreja enquanto instituição também deve zelar pelo meio ambiente, afinal, todos somos cidadãos e os principais interessados em que este colapso seja, de fato, revertido. Vejamos algumas atitudes:

- Estudos sobre meio ambiente e consequências das alterações climáticas podem ser acrescentados à Escola Dominical em datas especiais, ou mesmo durante todo um determinado mês;

- Membros podem ser incentivados à coleta seletiva do lixo e à reciclagem. Este é um tipo de trabalho que pode envolver principalmente as crianças, pois assim esta consciência começa a ser imputada desde cedo;

- Realizar a troca de lâmpadas incandescentes por fluorescentes, ou de led, que economizam mais energia, bem como de eletrodomésticos e eletroeletrônicos por similares que consumam menos energia;

- Realizar campanha de plantio de árvores no bairro, em parceria com o município, num trabalho que envolva toda a comunidade, não só eclesiástica.

São pequenas atitudes, o famoso “se cada um fizer a sua parte”, que poderão trazer, de fato, expectativa de dias melhores, por mais que a realidade ainda seja nada otimista quanto ao futuro — não muito distante — da humanidade.


Cronologia dos problemas climáticos (adaptado de infográfico feito pelo correspondente da BBC, Richard Black, e divulgado em 2013):

1824: O físico francês Joseph Fourier descreve o "efeito estufa" natural do planeta Terra. “A temperatura (da Terra) pode subir pela interposição da atmosfera, porque o calor na forma de luz encontra menos resistência ao penetrar o ar do que quando passa o ar já convertido em calor não luminoso.”

1900: O Knut Angstrom descobre que o CO2, mesmo em diminutas concentrações encontradas na atmosfera, absorve intensamente partes do espectro infravermelho.

1927: As emissões de carbono a partir da queima de combustível fóssil com a industrialização alcançam 1 bilhão de toneladas por ano.

1957: O oceanógrafo Roger Revelle e o químico Hans Suess, ambos americanos, comprovam que a água do mar não é capaz de absorver toda a quantidade adicional de CO2 lançada na atmosfera, como era assumido por muitos. Revelle escreveu: "Atualmente, os seres humanos estão realizando um experimento geofísico em larga escala..."

1965: Uma Comissão de Aconselhamento à Presidência dos Estados Unidos alerta que o efeito estufa é uma "preocupação real".

1972: A primeira conferência da ONU sobre o meio ambiente é realizada em Estocolmo.

1975: O cientista americano Wallace Broecker põe o termo "aquecimento global" no domínio público ao usá-lo no título de um de seus papéis científicos.

1987: Nações fecham acordo criando o Protocolo de Montreal, restringindo o uso de materiais químicos que destroem a camada de ozônio. Sem, entretanto, ter sido criado com as mudanças climáticas em mente, o protocolo teve um impacto maior sobre a emissão de gases do efeito estufa do que o Protocolo de Kyoto.

1990: O IPCC divulga seu primeiro Relatório de Avaliação. O documento conclui que, no último século, houve um aumento da temperatura global entre 0,3°C e 0,6°C;

1997: É acordado o Protocolo de Kyoto. Os países ricos prometem reduzir as emissões em média de 5% no período de 2008 a 2012, com metas que variam enormemente de um país para outro.

1998: Condições extremas do fenômeno El Niño combinadas com aquecimento global produzem o ano mais quente desde os primeiros registros meteorológicos. A temperatura média global supera em 0,52°C a média registrada no período 1961-1990 (um padrão comumente utilizado).

2011: Uma nova análise de registros de temperatura da Terra por cientistas preocupados com as acusações do "ClimateGate" prova que a superfície terrestre do planeta de fato se aqueceu durante o século passado. A população humana chega a 7 bilhões de pessoas.

Dados mostram que as concentrações de gases de efeito estufa estão aumentando em um ritmo mais rápido do que em anos anteriores.

2012: O gelo no Ártico atinge uma extensão de 3.410.000 km², a menor área desde que as medições por satélite começaram, em 1979.

2013: Dados do Observatório de Mauna Loa, no Havaí, informam que a concentração média diária de CO2 na atmosfera já ultrapassou 400 partes por milhão (ppm), pela primeira vez desde que as medições começaram, em 1958.
 

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