Na antiga aliança, o culto, devido às suas estruturas e características definidas para a prática do judaísmo, era limitado ao templo. Devemos nos lembrar que o culto judaico implicava em ritos e cerimônias que exigiam uma estrutura física e de pessoal à altura. A devoção dos piedosos mesmo a distâncias considerava a centralidade do templo no exercício da fé. O valor do templo era intrínseco para a cultura judaica e tinha um lugar especial na sua cosmovisão.
A encarnação de Jesus inaugurou uma nova dispensação que os teólogos batizaram de dispensação da graça. Nessa dispensação, o templo de Jerusalém perdeu o status que mantinha até então, não obstante ter perdido bem antes o propósito de sua existência. Jesus desferiu o golpe final contra o conceito prevalecente entre os judeus em relação ao templo de Jerusalém depois dos discípulos suscitarem o velho orgulho nacional em relação ao templo. Ao sair Jesus do templo, disse-lhe um de seus discípulos: Mestre! Que pedras, que construções! Mas Jesus lhe disse: Vês estas grandes construções? Não ficará pedra sobre pedra, que não seja derribada. (Mc.13.1-2). A profecia de Jesus estava perfeitamente afinada com sua mensagem e seu ensino. Jesus, em cumprimento à profecia do AT e à mensagem profética de João Batista, inaugurava o Reino de Deus entre os homens. No Reino de Deus, o culto não seria limitado a um lugar físico, a nova ordem de adoradores de Deus tem agora o compromisso de adorá-lo todo o tempo e em todo lugar fazendo isto em espírito e em verdade. Isto ficou claro no diálogo de Jesus com a mulher samaritana: Senhor, disse-lhe a mulher, vejo que tu és profeta. Nossos pais adoravam neste monte; vós, entretanto, dizeis que em Jerusalém é o lugar onde se deve adorar. Disse-lhe Jesus: Mulher, podes crer-me que a hora vem, quando nem neste monte, nem em Jerusalém adorareis o Pai. Vós adorais o que não conheceis; nós adoramos o que conhecemos, porque a salvação vem dos judeus. Mas vem a hora e já chegou, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores. Deus é espírito; e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade (Jo.4.19-24).
Como agente do Reino, a igreja vive esta realidade. A adoração do povo de Deus nesta nova aliança não está limitada ao tempo e espaço. Nessa perspectiva, a igreja faz uso do templo com finalidades estratégicas. O templo é uma ferramenta, um instrumento, um meio e não um fim em si mesmo. O templo permite a igreja fazer o que lhe é extremamente importante, se reunir. Nesse período de isolamento ou distanciamento social na luta para se conter a pandemia de covid-19 a igreja experimentou esta prerrogativa do Reino, mesmo privada de reunir fisicamente falando a igreja tem se mostrado ativa, unida, firme e atuante. Uma das formas de superar as barreiras momentâneas impostas pelas circunstâncias contra operacionalidade das igrejas foi pelo uso da tecnologia. Por meio de transmissões ao vivo, cultos têm sido realizados, mensagens pregadas, ensinamentos ministrados e o atendimento e assistência pastoral levado a cabo. Logo voltaremos à normalidade. Vamos poder nos reunir no templo, nos cumprimentar nos abraçar num ambiente próprio para a igreja militante, viva e atuante. Mais um pouquinho e isto será uma realidade. Assim cremos.
Bispo Roberto Amaral é superintendente da 6ª Região Eclesiástica da Igreja Metodista Wesleyana