A Igreja institucional está hoje no centro de acirrada discussão em quase todos os segmentos da cristandade. Chama-nos a atenção um fenômeno social que ocorre na Igreja hoje. Pessoas decidem sair da instituição religiosa para servir a Cristo, sem pastoreio e totalmente “livres”. Essas pessoas entendem que podem viver a fé em Cristo fora da comunhão eclesiástica. Afirmam haver uma forte distinção entre “organismo” e “organização” e que o organismo não depende da organização para existir.
É crescente o número dos “sem-igrejas”, “ex-cristãos” ou “desigrejados”. Nos Estados Unidos da América existem 20 milhões de deigrejados. Na França em 2007 apenas 57% da população se declarava cristã. Na Inglaterra no ano 2000, 56% se declararam ateus ou agnósticos. No Continente Europeu, apenas 21% reconhecem a relevância da religião para a vida. No Brasil, o grupo "evangélicos sem vínculo denominacional” foi o maior responsável pelo crescimento da população evangélica brasileira e representa hoje 21,8% do total dos evangélicos, sendo um grupo maior, portanto, do que a soma de todos os crentes vinculados a denominações evangélicas de missão (presbiterianos, metodistas, batistas, luteranos, congregacionais, adventistas e outros), os quais, somam pouco mais de 7,6 milhões de evangélicos.
Quais as principais razões pelas quais as pessoas justificam abandonarem a Igreja. As razões apresentadas para este fenômeno são diversas. A Igreja é muito crítica. A burocracia da igreja é “sufocante”. Não gostar do estilo da pregação. A Igreja não é um lugar onde se encontram com Deus. A Igreja assumiu papel político no mundo contemporâneo. O surgimento de milhares de donominações evangélicas. O poderio apostólico de igrejas neopentecostais. A instituicionalização e secularização das denominações históricas. A profissionalização do ministério pastoal. A busca de diplomas teológicos reconhecidos pelo estado. A variedade infindável de métodos de crescimento de igrejas e de sucesso pastoral. Os escândalos ocorridos nas igrejas. Tudo isso tem levado muitos a se desencantarem com a Igreja instituicional e organizada e simplesmente abandonam a igreja e a fé. Outros querem abandonar apenas a igreja e manter a fé. Querem ser cristãos, mas sem igreja.
Os desigrejados acham que têm razões suficientes para se rebelarem contra as igrejas convencionais, históricas, tradicionais e clássicas. Afirmam que Cristo não deixou qualquer forma de igreja organizada e institucional. Apegam-se ao que Jesus afirmou: “onde estiverem dois ou três reunidos em seu nome, Ele estaria com eles”. A Igreja verdadeira não tem templos, cultos regulares aos domingos, tesouraria, hierarquia, ofícios, ofertas, dízimos, clero oficial, confissões de fé, rol de membros, propriedades, escolas e seminários.
Existem muitas contradições entre os desigrejados: Em suas reuniões, há sempre alguém que dirige a mesma. Geralmente é o que detém, o monopólio, ou a primazia da palavra. É o mestre do grupo. Na prática é o pastor. Não são chamados de pastores, mas, na prática, e na dinâmica do trabalho, se comportam, agem e reagem como os pastores. Criticam as reuniões regulares nos templos religiosos, mas se reúnem via Skyp (hangouts), em sítios, cafeterias, salões, varandas e etc.
Na igreja primitiva, se tornar cristão significava pertencer à igreja. Os cristãos eram batizados, adicionados à igreja (Atos 2.41, 47; 5.14; 16.5). Ser cristão significa juntar-se com outros cristãos em uma assembleia local e participar da comunhão, ao partir do pão e as orações (Atos 2.42). Há muitas outras instruções na Palavra que convoca a nossa participação nas reuniões da igreja. Vejam:
- Participar da Ceia do Senhor (1 Coríntios 11.17-34),
- Juntar ofertas (1 Coríntios 16.1-3; Atos 5.1-2)
- Para resolver questões de pecado na congregação (1 Cor 5.4-5).
- Para ensinar a Palavra do Senhor (1 Coríntios 14.26)
- A disciplina na igreja. A prática da disciplina pressupõe que os líderes da igreja saibam quem são os membros da igreja. (Mt 18.15-17)
Portanto, se você é uma pessoa, que está sem igreja, ou como se diz por aí, “desigrejada”, fora da “Comunhão dos santos” por algum motivo que só você sabe, atente para a recomendação bíblica: “Não abandonando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hb 10:25).
Bispo José Damião é superintendente da 7ª Região Eclesiástica.