O universo é permeado por ondas sonoras, por isso, nunca está em silêncio. Toda atividade desenvolvida pelos grandes astros, como também pelas criaturas microscópicas, é capaz de produzir algum tipo de ruído. O maior silêncio ao nosso redor ainda nos permitirá ouvir o som que vem de dentro de nós mesmos. Dia e noite, de forma ininterrupta, os sons se propagam por todos os lugares. Num mundo assim, até o silêncio é um tipo de som.
Na sua infinita sabedoria, Deus criou nosso aparelho auditivo com capacidade limitada de capitar os sons do universo, pois expostos a eles o tempo todo, seria para nós uma tortura. O som não é somente portador de ruído, ele quase sempre é veículo transmissor de alguma mensagem. Quando nossos sentidos não conseguem decifrar uma mensagem ou um padrão de comunicação, o som se torna simples ruído e passa então a incomodar. E mesmo contendo um padrão de informação o som pode se tornar poluição quando excede ou subestima a capacidade de processamento e sensibilidade do ouvido. O silêncio é uma provisão divina para os ouvidos, ele oferece uma pausa necessária para o processamento da mensagem que o som nos transmite.
A poluição sonora é uma das marcas do mundo pós-moderno. Mesmo com o avanço tecnológico, a inteligência artificial, as máquinas continuam em suas atividades enchendo nosso mundo do ruído. A vida urbana, principalmente, é saturada de sons indesejáveis e perturbadores. Em casa não basta o ruído produzido pelos aparelhos eletroeletrônicos, há ainda os que compramos exclusivamente para produzir mais som a fim de diminuirmos o impacto das fontes internas e externas de barulho. Benditos sejam os fones de ouvidos!
Em meio a tanto barulho sentimos falta de um som extremamente importante para os ouvidos da alma humana: a voz de Deus. A voz de Deus se propaga pelo universo sem polui-lo (Sl 19.1-4). Sua voz é pura, é portadora de sua mensagem; é agradável aos ouvidos de suas criaturas, assim como é o som da voz da mãe para o bebê que ela amamenta. Para ouvi-la, às vezes, precisamos silenciar nossos ouvidos em relação ao vozerio deste mundo surdo e monológico.
Conta-se que certo fazendeiro perdera seu relógio de bolso num grande celeiro cheio de feno. Depois de procurar em vão, comissionou um grupo de crianças, que ali perto brincava, para a tarefa de achar o relógio perdido prometendo-lhes uma recompensa. Faceiras e animadas, as crianças caíram no feno e, em meio a muita algazarra, procuraram relógio horas a fio até desanimarem e consternadamente deixaram o local com as mãos vazias. Mais tarde um garoto pediu uma nova oportunidade para voltar ao celeiro a fim de achar o objeto perdido. Com a permissão do fazendeiro voltou ao celeiro, e, um tempo depois, voltou com o relógio na mão. Curioso, o fazendeiro perguntou como foi que conseguira encontrar o relógio. O garoto lhe respondeu que, depois de muito procurar, resolvera ficar em silêncio até poder ouvir o “tic tac” do relógio, então concluiu: aí foi fácil achá-lo.
Este também é o segredo para se ouvir a voz de Deus. Silencie os ouvidos de sua alma atormentada pelos sons das vozes propagadoras de filosofias baratas, teologias espúrias, subprodutos de um mundo falido e ouça a voz de Deus. Abra a Bíblia hoje, e, em silêncio, dedique um tempo para capitar o doce som de Sua voz.
Bispo Roberto Amaral é superintendente regional da 6ª Região