(Foto: divulgação)
Aos poucos, diversas cidades pelo Brasil vão retornando ao chamado novo normal, com estabelecimentos comerciais trabalhando em jornadas e capacidades reduzidas por conta da pandemia causada pela covid-19, mas ainda há muitos trabalhadores exercendo suas atividades de casa, o chamado home office.
Para alguns, a mudança do escritório para casa não foi tão ruim, e há quem considere trabalhar no mesmo lugar onde se mora “um sonho” — afinal, só de não ter de pegar ônibus ou metrô lotado na ida e na volta e poder se jogar na cama imediatamente após o fim do expediente compensa qualquer contra, certo?
Bom, não é exatamente assim na prática, por mais que o home office esteja ganhando cada vez mais adeptos. Uma estudo realizado pelo LinkedIn em abril com 2 mil profissionais de diversos ramos mostrou que 62% estão mais ansiosos e estressados com o trabalho do que antes.
“Home office é muito solitário, e isso pode afetar bastante a sanidade mental de uma pessoa. Sem conversas para amenizar o dia, sem aquele cafezinho no final da tarde ou sem aquele famoso happy hour no final do dia, essas pequenas coisas que fazem o dia ficar mais leve”, declara a advogada Bárbara Cardoso, que trabalha na parte jurídica de uma rede de plano de saúde.
De fato, a falta de interação com os colegas de trabalho pode não ser muito agradável para alguns. A pesquisa mostrou que 39% dos entrevistados se sentem solitários, enquanto 30% afirmam estarem estressados pela ausência de momentos de descontração no trabalho e 20% se sentem inseguros por terem dificuldades em saber o que está acontecendo com os colegas e a empresa.
Acostumar com o novo ambiente, por mais “familiar” que seja, também é um desafio. Barbara, por exemplo, conta que as suas atividades de trabalho não foram muito alteradas, porém a cobrança por parte dos chefes ficou maior. “As pessoas pressupõem que como você está trabalhando de casa, está 24h à disposição da companhia.”
“Tudo ficou muito urgente, e um clima de desespero tomou conta de todo mundo. Balancear a cobrança e a culpa de se estar em casa foi complicado, mas hoje eu consigo trabalhar as 8h e tirar de fato o meu horário de almoço”, completa a advogada.
No quesito produtividade, o home office parece ser um ponto positivo na vida dos trabalhadores, pelo menos segundo dados da pesquisa feita pelo LinkedIn. 33% dos entrevistados disseram que se sentem mais produtivos por conta da redução de interrupções relacionadas ao ambiente de trabalho.
“Nesse período que trabalhei em casa, produzi mais matérias e conteúdos mais densos. A maior dificuldade foi não ter programas de edição de áudio para fazer tudo daqui. É preciso ter muita disciplina também!”, ressalta a jornalista Jéssica Santos.
De fato, não ter em casa a mesma estrutura que a empresa oferece pode tornar essa experiência mais estressante. “Não tenho mesa e cadeira própria para passar o dia todo, e, além disso, a instabilidade da internet atrapalha bastante”, avalia Bárbara.
“No meu caso, por exemplo, não foi possível exercer a mesma função que colocaria em prática da redação”, admite Jéssica, que trabalha em uma emissora de rádio. “Em home office, precisei auxiliar a rádio com outras funções, já que para fazer o WhatsApp precisaria estar na redação. De casa eu ajudava na apuração das notícias e produzia matérias. Com as notícias consolidadas, entrava no ar pelo meu telefone, através de ligações”, explica a jornalista.
As duas profissionais entrevistadas concordam que o home office, por mais que tenha suas vantagens, não é alternativa para todos. Jéssica, por exemplo, destaca que ter disciplina é fundamental para fazer o trabalho render. “Se a pessoa não tem foco, acaba deixando a desejar. Além disso, depende da função que a pessoa exerce e dos recursos que ela precisa.”
A pesquisa aponta para o quão difícil é conciliar o trabalho com a família, na opinião dos entrevistados. 34% afirma se distrair ouvindo notícias sobre a covid-19; 20% enfrentam dificuldades para conciliar o trabalho e o cuidado com os filhos e 22% consideram desafiador trabalhar com o parceiro em casa.
Em entrevista ao portal InfoMoney, Milton Beck, diretor-geral do LinkedIn para a América Latina, acredita que o pós-pandemia trará mudanças na forma de trabalho das empresas, porém descarta uma transição radical do escritório para casa.
“As pessoas defensoras do home office estão querendo voltar ao escritório e os adeptos do escritório estão enxergando os benefícios do home office. Por isso, acredito em um meio termo, em que trabalharemos alguns dias no escritório e outros em casa”, declara Beck.