Condição comum em pacientes com covid-19 preocupa médicos
A chamada “pneumonia silenciosa” faz com que pacientes não sintam falta de ar
Redação CPIMW
24 de Abril de 2020

Paciente recebe atendimento (Foto: Flavio Lo Scalzo/Reuters)

Uma condição comum e muito perigosa entre pacientes diagnosticados com a covid-19 tem preocupado médicos após recentes constatações publicadas em artigo no jornal The New York Times. De acordo com o estudo, a pneumonia da Covid-19 causa a chamada hipóxia silenciosa, uma privação de oxigênio que faz com que o paciente não sinta falta de ar — sintoma considerado grave — mesmo estando com o pulmão comprometido.

Quem observou essa característica foi o médico Richard Levitan quando atendia pacientes com covid-19 no hospital Belleuve, em Nova York. Muitos, embora apresentassem pneumonia e oxigenação no sangue abaixo do normal, não tinham problemas para respirar. Ele relatou no artigo do The New York Times vários casos de pacientes internados por outras razões, como acidentes, que só foram diagnosticados com o novo coronavírus após tomografias ou raios-x feitos para verificar possíveis lesões internas.}

O médico conta que os exames mostraram “pneumonia avançada”, porém eles falavam normalmente no celular com seus familiares. “Apesar de estarem com a respiração rápida, não aparentavam aflição, apesar dos níveis baixos perigosos de oxigênio e de apresentarem pneumonia avançada nos raios-X.”

A constatação de Levitan vai ao encontro do estudo liderado pelo anestesiologista Luciano Gattinoni, da Universidade de Göttingen, na Alemanha, que aponta a hipóxia silenciosa como uma condição comum entre pacientes com covid-19.

Ao menos 50% dos 150 pacientes da pesquisa tinham uma oxigenação baixa, mas pulmões com um nível quase normal de complacência, como é chamada a capacidade do órgão de se expandir. "Essa combinação notável quase nunca é vista em uma síndrome respiratória aguda grave", diz Gattinoni.

No Brasil, alguns médicos relatam a mesma experiência em pacientes internados com o novo coronavírus. “A maioria dos pacientes infectados fica bem em duas ou três semanas, mas outros evoluem para quadros graves, e alguns têm essa pneumonia silenciosa. A gente vê tomografias assustadoras, com o pulmão muito comprometido, a pessoa está com uma saturação muito baixa, mas está muito bem", diz o pneumologista Paulo Teixeira, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre.

Mas por que isso acontece? Levitan fala em seu artigo que médicos e cientistas estão apenas começando a entender essa condição, mas que uma possível explicação pode ser o fato de o coronavírus atacar as células pulmonares que produzem surfactantes, substâncias que ajudam os alvéolos a permanecerem abertos entre as respirações e que são essenciais para o pulmão funcionar normalmente. 

"Mas os pulmões permanecem inicialmente 'complacentes', ainda não rígidos ou cheios de fluídos. Isso significa que o paciente pode expelir dióxido de carbono — e, sem o acúmulo de dióxido de carbono, os pacientes não sentem falta de ar", escreve Levitan.

"A rápida progressão da hipóxia silenciosa para a insuficiência respiratória explica os casos de pacientes com Covid-19 que morrem de repente, sem chegarem a sentir falta de ar", afirma o médico.
Jaques Sztajnbok, médico supervisor da unidade de tratamento intensivo do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, diz que a hipóxia silenciosa não é uma característica particular da Covid-19. "Não é algo inédito, vemos acontecer com pacientes que têm outras doenças", diz o médico.

Teixeira reitera que a pessoa deve procurar um hospital caso tenha falta de ar — e mesmo sem febre, porque de 30% a 40% das pessoas com covid-19 não têm esse sintoma. Sztajnbok concorda com a afirmação do médico.

"Procure um hospital se tiver falta de ar, uma frequência respiratória aumentada persistente ou sentir cansaço ao fazer atividades em que isso não aconteceria normalmente", diz Sztajnbok.

O médico diz ainda que a hipóxia silenciosa deve ser melhor estudada — e que "não é motivo para pânico". "O risco é lotar os prontos-socorros com pessoas que acham que têm pneumonia sem ter sintoma nenhum. Quem precisar ser atendido não vai conseguir, e a pessoa que foi lá desnecessariamente pode voltar para casa infectada com o coronavírus”, alerta.

Fonte:G1

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