A chanceler Angela Merkel em discurso pedindo aos alemães para respeitarem a quarentena
Até o fechamento desta edição, os números de casos confirmados do novo coronavírus na Alemanha passavam de 26 mil, deixando o país na quinta posição entre os países mais afetados pela pandemia em todo o mundo. Mas ao contrário do que se vê na Itália, com mais de 50 mil casos e 6 mil mortos, a taxa de mortalidade entre os alemães infectados pelo covid-19 é de 0,35%: foram 94 mortes até o momento.
O que diferencia a Alemanha das outras vizinhas europeias, de acordo com especialistas, são três pontos que muito ensinam aos demais países que estão começando a enfrentar o fantasma do coronavírus.
O primeiro ponto são os testes em massa, o que permite o diagnóstico precoce, evitando, com isso, a disseminação da doença. "O caso alemão mostra que isso não é só uma boa estratégia como é um componente essencial na luta contra a pandemia", avalia Jeremy Rossman, professor de virologia da Universidade de Kent, no Reino Unido, em reportagem da BBC.
A aplicação maciça de testes na população deve envolver mesmo as pessoas que apresentem sintomas leves. Segundo um amplo estudo na China com dezenas de milhares de pessoas infectadas, cerca de 80% de pacientes confirmados positivos para o coronavírus tiveram sintomas leves ou moderados, 13,8%, severos e 4,7%, graves.
Outro ponto em que a Alemanha acertou foi criar medidas para combater a epidemia antes mesmo que ela chegasse ao país. Para se ter uma ideia, seus primeiros casos foram detectados em 27 de janeiro, cerca de três semanas antes do que em seus países vizinhos. Contudo, desde 6 de janeiro já havia no país um comitê permanente de vigilância, apenas uma semana depois de a OMS receber alerta da China sobre o que ainda era uma doença misteriosa.
A Alemanha também contabiliza menos mortes porque grande parte dos infectados são pessoas jovens. Mais de 70% das pessoas identificadas com vírus têm entre 20 e 50 anos. A título de comparação, a Itália, que é o segundo país com a população mais velha do mundo (Japão é o primeiro), a idade média dos diagnosticados com o novo coronavírus é de 66 anos — 58% têm mais de 60 anos, que é apontado pelos médicos como o grupo de maior risco ao lado dos que apresentam doenças preexistentes.
Há, porém, muita cautela da parte dos especialistas ao relatar os dados da Alemanha como uma possível vitória sobre a pandemia de covid-19. Muitos acreditam, por exemplo, que o número de mortos no país pode subir quando o coronavírus começar a atingir a população mais idosa, seguindo a tendência do que tem sido visto em outros países.
Vale lembrar também que existe um descompasso entre o número de infectados e o número de mortos, já que uma pessoa pode levar até 14 dias para apresentar sintomas e, caso seu quadro de saúde piore até o óbito, ficar outras três ou quatro semanas internada até morrer.
O autoisolamento também tem sido uma arma poderosa dos alemães contra o novo coronavírus, tanto que a própria chanceler Angela Merkel se colocou em quarentena depois que um médico com quem ela teve contato restou positivo para a doença.
Na Alemanha, todos aqueles que apresentam sintomas ou tiveram contato com alguém diagnosticado com a doença ou alguém procedente das chamadas "zonas vermelhas" (como a Itália e a província chinesa de Hubei) podem ser submetidos aos testes.
Outra medida das autoridades sanitárias alemãs também teve um impacto positivo nos números até o momento. Segundo especialistas, quando surgiu o primeiro caso, o país agiu rapidamente e conseguiu identificar o paciente zero, um jovem infectado por uma cidadã chinesa que havia visitado a região alemã da Bavária e não havia apresentado nenhum sintoma ao longo de sua estadia no país.
Até o fechamento desta edição (30/03), os casos confirmados de Covid-19 no Brasil somavam 4.371 com 141 mortes. Governos estaduais têm adotado medidas de quarentena para a população na tentativa de impedir o avanço da pandemia, mas especialistas acreditam que o país ainda viverá o seu pico de casos no mês de abril.
(Fonte: Uol.com.br)